segunda-feira, 28 de agosto de 2017

O Caminho da Beleza 41 - XXII Domingo do Tempo Comum

Muitos pensam de modo diferente, sentem de modo diferente. Procuram Deus ou encontram Deus de muitos modos. Nesta multidão, nesta variedade de religiões, só há uma certeza que temos para todos: somos todos filhos de Deus. Que o diálogo sincero entre homens e mulheres de diferentes religiões produza frutos de paz e de justiça.
(Papa Francisco, 2016)

Não temos um só Pai? Não nos criou um mesmo Deus? Por que trabalhamos tão perfidamente uns contra os outros?
(Ml 2, 10)

XXII Domingo do Tempo Comum              03.09.2017
Jr 20, 7-9                Rm 12, 1-2              Mt 16, 21-17


ESCUTAR

Seduziste-me, Senhor, e deixei-me seduzir; foste mais forte, tiveste mais poder (Jr 20, 7).

Não vos conformeis com o mundo, mas transformai-vos, renovando vossa maneira de pensar e de julgar (Rm 12, 2).

“Vai para longe de mim, satanás! Tu és para mim uma pedra de tropeço, porque não pensas as coisas de Deus, mas sim as coisas dos homens!” (Mt 16, 23).


MEDITAR

Não fiques imóvel
à beira do caminho,
não congeles a vida,
não ames com fastio,
não te salves agora
não te salves nunca

Não te enchas de calma,
não reserves do mundo,
apenas um cantinho feliz
não deixes cair pesadas
pálpebras como juízos definitivos,
não fiques sem lábios,
não durmas sem sonhos,
não te penses sem sangue,
não te julgues sem tempo.

Mas se
apesar de tudo,
não podes evitar;
e congelas a vida,
e amas com fastio,
e te salvas agora,
e te enches de calma,
e reservas do mundo,
apenas um cantinho feliz,
e deixas cair pesadas pálpebras como juízos definitivos,
e te secas sem lábios,
e dormes sem sonhos,
e te pensas sem sangue,
e te julgas sem tempo,
e ficas imóvel
à beira do caminho,
e te salvas;
então
não fiques comigo.
(Mário Benedetti, Não te Salves)


ORAR

O profeta recusa as ilusões, as receitas fáceis e os discursos anestésicos e se propõe a não profetizar mais em nome de Deus. Jeremias acusa o Senhor de tê-lo seduzido, de ter se aproveitado dele; de conseguir o que queria e depois tê-lo abandonado. O profeta não poderia prever esta consequência dramática, pois na sua lua de mel com o Senhor cantava: “Quando recebia tuas palavras, eu as devorava. Tua palavra era meu prazer e minha íntima alegria” (Jr 15, 16). Aquele que é chamado a profetizar deve ter a lucidez de que entrará em confronto com a surdez alheia que poderá levá-lo até a morte. É o excesso de fidelidade aos desígnios de Deus que nos levará a esta situação extrema porque a Palavra é um fogo ardente nas entranhas e encerrado nos ossos. Jesus apresenta o seu programa de seguimento: negar-se a si mesmo, carregar a cruz e perder a vida. Pedro reage, O repreende e defende a farinha do seu próprio saco: tranquilidade, triunfalismo, ambição pessoal e sedução ao poder. De venturoso, é rebaixado a Satanás. O Cristo exige do discípulo que não pense em si mesmo, pois o maior perigo no Seu seguimento é falar Dele, mas continuar a pensar em nós. Os desígnios de Deus nunca são confortáveis. São como laços que ficam cada vez mais apertados e dolorosos. O caminho do profeta está prescrito: é o caminho do homem que Deus não permitirá nunca que fuja e se livre Dele. O teólogo Dietrich Bonhöeffer escrevia: “Jeremias era de carne e osso como nós, um ser humano como nós. Ele sentiu a dor de ser constantemente humilhado e ridicularizado, a dor da violência e da brutalidade que os outros usaram contra ele”. O chamado de Deus ao profeta implica a doação de uma vida inteira. Uma vida que vai conhecer a obscuridade, o abandono, o silêncio, o sofrimento e até a torpe morte na Cruz. Comoção e indignação são os binômios da vida profética. Numa situação-limite, comover-se não é suficiente se esta comoção não se converte em indignação e ira. Devemos estar em sintonia com os que mais sofrem vitimados pela sociedade e pela religião. O cristão é um ser indignado frente à injustiça e à mentira, caso contrário, é indigno de querer ostentar este nome. Por outro lado, a indignação sem a comoção pode se manifestar de forma vazia, cruel e impiedosa. Quando Deus chama um homem para ser profeta, ordena-lhe que vá e morra! (Bonhöeffer).


CONTEMPLAR

Skid Row III, 2011, Lee Jeffries (1971-), foto da série Homeless, Manchester, Reino Unido.






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