segunda-feira, 28 de novembro de 2016

O Caminho da Beleza 02 - II Domingo do Advento

Muitos pensam de modo diferente, sentem de modo diferente. Procuram Deus ou encontram Deus de muitos modos. Nesta multidão, nesta variedade de religiões, só há uma certeza que temos para todos: somos todos filhos de Deus. Que o diálogo sincero entre homens e mulheres de diferentes religiões produza frutos de paz e de justiça.
(Papa Francisco, 2016)

Não temos um só Pai? Não nos criou um mesmo Deus? Por que trabalhamos tão perfidamente uns contra os outros?

(Ml 2, 10)



II Domingo do Advento                       04.12.2016
Is 11, 1-10                Rm 15, 4-9              Mt 3, 1-12


ESCUTAR

Naqueles dias, nascerá uma haste do tronco de Jessé e, a partir da raiz, surgirá o rebento de uma flor (Is 11, 1).

Acolhei-vos uns aos outros, como também Cristo vos acolheu, para a glória de Deus (Rm 15, 7).

“A palha ele a queimará no fogo que não se apaga” (Mt 3, 12).


 MEDITAR

Sê constante na procura do Bem-Amado...

Para colheres o seu agrado no amor,
Não hesites em deitar a face
Sobre a soleira de sua porta
E aceita as provações que Ele te impôs.

Só triunfa pela união com o Bem-Amado
Aqueles cujos rins suportaram
O pesado fardo do desejo 
E do êxtase...

Levanta-te, pois!
Mostra que és um homem
Tomando a iniciativa da busca do amor,
Para obteres um encontro que já é teu.

(Paciência, texto islâmico anônimo)


ORAR

Deus garante a legitimidade dos sonhos mais audazes, a factibilidade do impossível e a força aos projetos mais loucos. Deus nos entrega sonhos ainda que tenhamos medo de sonhar coisas estupendas, grandes e novas. Esperança significa a possibilidade de projetar e de sonhar um futuro distinto e surpreendente. O profeta nos alerta para a imagem do tronco cortado, seco, de cujas raízes desponta, inesperadamente, um broto. Deus para realizar seus desígnios não recorre aos frondosos e imponentes cedros do Líbano, mas parte de uma árvore truncada: o tronco de Jessé. A estirpe de Davi tem uma origem humilde e insignificante. E o tronco produz um sinal inequívoco de vida: um broto inesperado e improvável. Existe um novo jardim: uma sociedade construída sobre a justiça e a paz universal. A gratuidade de Deus é a maior ameaça ao poder. É paradoxal conciliar o Deus da esperança, da paciência e da consolação apresentado por Paulo, com o Messias juiz severo, que esmaga o grão, desmascara as hipocrisias humanas, corta e atira ao fogo as árvores que não produzem frutos. João, o Batista, fustiga a falsa segurança que é o oposto da esperança. Não se pode separar a Palavra de Deus que nos faz sonhar, consola e tranquiliza da que nos faz tremer e temer. É necessário, ao mesmo tempo, sonhar, sentirmos-nos confortados e sermos sacudidos sem concessões. Jesus atuou de forma surpreendente e até escandalosa: fez-se amigo dos pecadores, não usou o tema do pecado nem como argumento de poder para submeter as pessoas, nem como discurso do medo para manipular as consciências e as práticas. Jesus testemunhou que este mundo virado se endireita não o limpando dos pecados prescritos pelas instituições de poder, mas reconhecendo a dignidade, os direitos à felicidade de todos os homens e mulheres, cristãos ou não. Deus é Mais!


CONTEMPLAR

Aos pés das dunas de Sossusvlei, Namíbia, Olivier Föllmi (1958-), França.




segunda-feira, 21 de novembro de 2016

O Caminho da Beleza 01 - I Domingo do Advento

Muitos pensam de modo diferente, sentem de modo diferente. Procuram Deus ou encontram Deus de muitos modos. Nesta multidão, nesta variedade de religiões, só há uma certeza que temos para todos: somos todos filhos de Deus. Que o diálogo sincero entre homens e mulheres de diferentes religiões produza frutos de paz e de justiça.
(Papa Francisco, 2016)


Não temos um só Pai? Não nos criou um mesmo Deus? Por que trabalhamos tão perfidamente uns contra os outros?
(Ml 2, 10)


I Domingo do Advento             27.11 2016
Is 2, 1-5                    Rm 13, 11-14                      Mt 24, 37-44

ESCUTAR

“Vamos subir ao monte do Senhor, à casa do Deus de Jacó, para que ele nos mostre seus caminhos e nos ensine a cumprir seus preceitos” (Is 2, 3).

A noite já vai adiantada, o dia vem chegando: despojemo-nos das ações das trevas e vistamos as armas da luz (Rm 13, 12).

“E eles nada perceberam até que veio o dilúvio e arrastou a todos” (Mt 24, 39).

MEDITAR

Volte para Mim teu coração,
apreende-me com toda a tua vontade,
repousa em mim o teu espírito
e encontra em mim a tua felicidade.

Quem a tudo renuncia por amor
está perto da meta final.

Quem não quer mal a ser algum
e, liberto do ódio e do egoísmo,
é bom para com todas as criaturas...
está perto da meta final.

Quem permanece fiel a si mesmo,
no prazer e no sofrimento,
sempre sereno e paciente...
esse é querido por mim.

Aquele cuja vida é amor,
a esse amo acima de tudo
e o alimento com o meu amor.

(Krishna, Bhagavad Gita)

ORAR

Nestes tempos de Advento, a comunidade cristã se faz voz desta espera e repete com força a antiga invocação dos cristãos: Marana thà, Vinde Senhor! O cristão é aquele que fica vigilante cada dia e cada hora, sabendo que o Senhor vem. Não podemos reduzir o Advento a uma devoção ingênua e regressiva que empobrece a esperança cristã. Devemos saber procurar Deus no nosso futuro como sentinelas impacientes desde a aurora e tendo no coração a urgência da vinda do Cristo. Aguardar não significa pôr-se a esperar, mas a capacidade e o desejo de se despertar e pôr-se a caminho. É preciso sair deste modorrento repouso que nos ata os pés e nos dificulta o andar. O sono pode entorpecer os sonhos e devemos acordar para torná-los realidade. O sintoma inequívoco da enfermidade do sono é o entorpecimento de não compreender o significado do tempo presente. Dormir pode ser também uma atividade frenética, em busca de uma eficácia empreendedora na qual se entrelaçam negócios e apostolados; poder e religião; atrás do sucesso pela difusão religiosa. Tudo isto revela que estamos ausentes e alienados do mundo real e do evangelho. Manipulações, litígios internos, invejas, brigas mesquinhas, competições emburrecidas e conclusões enfezadas são formas de sono que nos alienam dos verdadeiros desafios. Este é o momento de nos dar conta que o tempo de Deus entrou no tempo dos homens e que este instante é um instante eterno. O que importa e o que é decisivo é o aqui e o agora: “Escutai hoje a sua voz e não vosso coração” (Sl 95, 7-8). Nestes tempos de Advento, atenção para a vista que se nubla quando é capturada pela superficialidade e pelo efêmero; para as mãos que estão vazias quando se empenham em contar e acumular; para o coração que se faz pesado quando está repleto de futilidades e vulgaridades. O cristão deve ser um sonhador como José (Gn 37, 19), pois quando Deus está no meio o sonho se torna uma possibilidade concreta. Jesus pede que não durmamos diante dos que sofrem pela injustiça, pois esta atenção ao sofrimento alheio é o que importa de verdade na vida. O Evangelho nunca é uma ameaça, mas também nunca será um convite para uma vida fútil. Jesus é sempre acolhida, façamos o que façamos, mas ele também nos instiga para que sempre nos superemos. Mantenhamos em nossos corações, neste tempo de Advento, o questionamento do teólogo e cientista: “Cristãos, encarregados de guardar sempre viva sobre a terra a chama do desejo; o que temos feito da espera do Senhor? (Theillard de Chardin).

CONTEMPLAR

S. Título, Nepal, 1968, Michael Wolgensinger (1913-1990), Zurique, Suíça.




segunda-feira, 14 de novembro de 2016

O Caminho da Beleza 53 - Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo

Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo                 20.11.2016
2 Sm 5, 1-3              Col 1, 12-20            Lc 23, 35-43

ESCUTAR

“Tu apascentarás o meu povo Israel e serás o seu chefe” (2 Sm 5, 2). 

Ele nos libertou do poder das trevas e nos recebeu no reino de seu Filho amado (Cl 1, 13).

“Jesus, lembra-te de mim quando estiveres no teu reinado” (Lc 23, 42).


MEDITAR

Misericórdia: é a palavra que revela o mistério da Santíssima Trindade. Misericórdia: é o ato último e supremo pelo qual Deus vem ao nosso encontro. Misericórdia: é a lei fundamental que mora no coração de cada pessoa, quando vê com olhos sinceros o irmão que encontra no caminho da vida. Misericórdia: é o caminho que une Deus e o homem, porque nos abre o coração à esperança de sermos amados para sempre (Francisco, Misericordiae Vultus 2).


ORAR

Esta festa solene de Cristo, Rei do Universo tem como cenário o Calvário e no centro não se destaca um trono majestoso, mas uma Cruz, o patíbulo dos escravos. O povo adota uma posição neutra e oportunista frente ao Condenado; os soldados escarnecem Dele e a própria inscrição colocada sobre sua cabeça é um escárnio. Somente um delinquente O reconhece como rei, ainda que apareça, na Cruz, como perdedor. Os que usam a linguagem do poder desafiam o Cristo para que entre no jogo da força, mas a sua linguagem é a do amor, do perdão e da misericórdia. No Calvário, Cristo coroa sua obra de misericórdia, de reconciliação e de paz. Nos seus últimos instantes, Jesus se encontra próximo dos marginalizados, companheiros de suplício. O “bom ladrão” não obtém de Cristo a salvação física, como queria o outro, mas a salvação total.     Jesus decide em favor do homem e, ao mesmo tempo, é o Servidor “humilhado e obediente até a morte, morte de Cruz” (Fl 2, 8). Desta forma, revela-se como Rei e Servidor, como Cordeiro e Pastor: “O Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo 1, 29) e o “verdadeiro Pastor” que dá “a vida em superabundância” (Jo 10, 10-11). A Igreja, comunidade de crentes e de perdoados, é o sinal vivo de que o alto e o baixo coincidem; que o Único e o Mesmo são o Crucificado e o Ressuscitado e que a soberania e a compaixão se identificam em Deus. O nosso Rei é o Crucificado que reúne todo o universo e nos revela, para todo o sempre, que a felicidade em Deus é o dom de si mesmo até o esvaziamento pleno que nos transfigura em homens e mulheres, amados e amantes.


CONTEMPLAR

S. Título, s. autoria, acessado em Pinterest, 2016.





O Caminho da Beleza 53 - Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo

Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo                 20.11.2016
2 Sm 5, 1-3              Col 1, 12-20            Lc 23, 35-43

ESCUTAR

“Tu apascentará o meu povo Israel e será o seu chefe” (2 Sm 5, 2). 

Ele nos libertou do poder das trevas e nos recebeu no reino de seu Filho amado (Cl 1, 13).

“Jesus, lembra-te de mim quando estiveres no teu reinado” (Lc 23, 42).


MEDITAR

Misericórdia: é a palavra que revela o mistério da Santíssima Trindade. Misericórdia: é o ato último e supremo pelo qual Deus vem ao nosso encontro. Misericórdia: é a lei fundamental que mora no coração de cada pessoa, quando vê com olhos sinceros o irmão que encontra no caminho da vida. Misericórdia: é o caminho que une Deus e o homem, porque nos abre o coração à esperança de sermos amados para sempre (Francisco, Misericordiae Vultus 2).


ORAR

Esta festa solene de Cristo, Rei do Universo tem como cenário o Calvário e no centro não se destaca um trono majestoso, mas uma Cruz, o patíbulo dos escravos. O povo adota uma posição neutra e oportunista frente ao Condenado; os soldados escarnecem Dele e a própria inscrição colocada sobre sua cabeça é um escárnio. Somente um delinquente O reconhece como rei, ainda que apareça, na Cruz, como perdedor. Os que usam a linguagem do poder desafiam o Cristo para que entre no jogo da força, mas a sua linguagem é a do amor, do perdão e da misericórdia. No Calvário, Cristo coroa sua obra de misericórdia, de reconciliação e de paz. Nos seus últimos instantes, Jesus se encontra próximo dos marginalizados, companheiros de suplício. O “bom ladrão” não obtém de Cristo a salvação física, como queria o outro, mas a salvação total.     Jesus decide em favor do homem e, ao mesmo tempo, é o Servidor “humilhado e obediente até a morte, morte de Cruz” (Fl 2, 8). Desta forma, revela-se como Rei e Servidor, como Cordeiro e Pastor: “O Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo 1, 29) e o “verdadeiro Pastor” que dá “a vida em superabundância” (Jo 10, 10-11). A Igreja, comunidade de crentes e de perdoados, é o sinal vivo de que o alto e o baixo coincidem; que o Único e o Mesmo são o Crucificado e o Ressuscitado e que a soberania e a compaixão se identificam em Deus. O nosso Rei é o Crucificado que reúne todo o universo e nos revela, para todo o sempre, que a felicidade em Deus é o dom de si mesmo até o esvaziamento pleno que nos transfigura em homens e mulheres, amados e amantes.


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S. Título, s. autoria, acessado em Pinterest, 2016.





segunda-feira, 7 de novembro de 2016

O Caminho da Beleza 52 - XXXIII Domingo do Tempo Comum

XXXIII  Domingo do Tempo Comum                    13.11.2016
Ml 3, 19-20                         2 Ts 3, 7-12                                     Lc 21, 5-19


ESCUTAR

Eis que virá o dia, abrasador como fornalha, em que todos os soberbos e ímpios serão como palha (Ml 3, 19).

Ouvimos dizer que entre vós há alguns que vivem à toa, muito ocupados em não fazer nada (2 Ts 3, 11).

“Cuidado para não serdes enganados, porque muitos virão em meu nome, dizendo: ‘Sou eu’!” (Lc 21, 8).


MEDITAR

A esperança cristã não é um “consolo espiritual”, uma distração das tarefas sérias que exigem nossa atenção. É uma dinâmica que nos torna livres de todo determinismo e de todos os obstáculos para construir um mundo de liberdade, para libertar essa história das correntes do egoísmo, da inércia e da injustiça nas quais se tende a cair com tanta facilidade (Francisco, Educar: exigência e paixão).


ORAR

Paulo ganhou o seu salário como construtor de tendas. Mais do que o Templo, do qual não “restará pedra sobre pedra”, emerge a tenda. A tenda é um sinal provisório de uma travessia até uma meta definitiva. É preciso, mais do que nunca, construir tendas para congregar os que se amam. Seremos julgados pela nossa omissão de não as termos feito, “ocupados em não fazer nada”. A vida é feita de condições turbulentas e as igrejas verdadeiras nada têm de brilhante triunfalismo, que sempre será um sinal de decadência. “Nisto é que está o mistério da Igreja: uma realidade humana feita de homens pobres e limitados (...) Mas a Igreja de hoje ainda não é aquilo que está chamada a ser. É importante ter isto em conta para se evitar uma falsa visão triunfalista” (Puebla, 230-31). Isto desconcerta muitos cristãos que acabam presos por uma angústia, um pânico, uma desesperança e uma desconfiança em relação à Igreja. Sua fé em Deus é uma fé vacilante. Jesus nos previne, cruelmente, sobre estas coisas para que tenhamos uma atitude oposta ao desânimo, ao medo e à infidelidade: “Vós não perdereis um só fio de cabelo da vossa cabeça”, pois “estarei convosco todos os dias até a consumação dos séculos” (Mt 28, 20). A perseverança cristã consiste em saber recomeçar a cada dia. Continuaremos a perguntar: “O fim do mundo é para amanhã?”. E devemos responder: “Não, o fim anunciado é hoje!”. Por esta razão é necessário construir tendas na travessia, pois elas são as palavras do verbo recomeçar.


CONTEMPLAR

Um bebê sírio é passado por um buraco na barreira de arame farpado, entre a fronteira da Sérvia e Hungria, 2015, Warren Richardson (1968-), Austrália, World Press Photo.