segunda-feira, 25 de julho de 2016

O Caminho da Beleza 37 - XVIII Domingo do Tempo Comum

XVIII Domingo do Tempo Comum             31.07.2016
Ecl 1, 2;2, 21-23               Cl 3, 1-5.9-11                      Lc 12, 13-21


ESCUTAR

“Vaidade das vaidades!” (Ecl 1, 2).

“Aspirai as coisas celestes e não as coisas terrestres. Pois vós morrestes e a vossa vida está escondida, com Cristo, em Deus” (Cl 3, 2-3).

“A vida de um homem não consiste na abundância de bens” (Lc 12, 15).


MEDITAR

O que manda hoje não é o homem, mas o dinheiro, é o dinheiro que manda! E Deus, nosso Pai, confiou a tarefa de conservar a terra, não o dinheiro, a nós: aos homens e às mulheres; somos nós que temos essa tarefa! No entanto, homens e mulheres são sacrificados aos ídolos do lucro e do consumo: é a “cultura do descarte” (Francisco, A Igreja da Misericórdia).


ORAR

A palavra do Senhor é contestadora e sempre nos coloca diante da mesma pergunta de fundo: que sentido tem a vida, se tudo é vaidade? A realidade é furtiva, passageira, de escassa consistência e mesmo o trabalho realizado com inteligência, paixão e habilidade está sob o signo do vazio. Jesus contesta a tarefa de árbitro que desejam lhe conferir numa controvérsia sobre a herança. Sua missão está acima das disputas mesquinhas vinculadas aos interesses econômicos e patrimoniais. Cristo veio para que descubramos que o Senhor nos ama; para que vivamos no amor recíproco e não para decidir quem tem razão na disputa fratricida por um quinhão de dinheiro. Quem age desta forma é um néscio, um estúpido porque erra na vida de uma maneira clamorosa e será para sempre um não-vivente. Idolatrar a riqueza é não conseguir ampliar horizontes por se estar sufocado pelo medo e pelo pavor de perder o que se acumulou. Cristo não nos ensina o desprezo da realidade terrestre, mas a sua superação. Contesta a afirmação absoluta e corriqueira que a vida do homem depende dos seus bens. A segurança não vem do que se acumulou, mas dos valores e dos afetos sobre os quais alicerçamos nossa existência. Vivemos numa sociedade de mútuas ilusões e de recíprocos enganos. O cristão não vive de limites, mas de horizontes que estão além, muito além, das posses, do poder e da ostentação. Tomara que as pontas das leituras desta liturgia nos atem, definitivamente, à Palavra fustigante de Deus que nos atinge até a medula: “Vaidade das vaidades”; “Louco! Ainda nesta noite, pedirão de volta a tua vida. E para quem ficará o que tu acumulastes?”.


CONTEMPLAR

Francisco, 2015 ou 2016 (?), Vaticano, Itália, autor desconhecido.       

                                                       







segunda-feira, 18 de julho de 2016

O Caminho da Beleza 36 - XVII Domingo do Tempo Comum

XVII Domingo do Tempo Comum              24.07.2016
Gn 18, 20-32                     Cl 2,12-14                Lc 11, 1-13


ESCUTAR

“Estou sendo atrevido em falar a meu Senhor, eu que sou pó e cinza” (Gn 18, 27).

Com Cristo fostes sepultados no batismo; com ele também fostes ressuscitados por meio da fé no poder de Deus, que ressuscitou a Cristo dentre os mortos (Cl 2, 12).

“Portanto, eu vos digo, pedi e recebereis; procurai e encontrareis; batei e vos será aberto. Pois quem pede, recebe; quem procura, encontra e para quem bate, se abrirá” (Lc 11,9).


MEDITAR

Orar é um ato de liberdade. Mas, às vezes, surge uma tentativa de controlar a oração, que é a mesma coisa que tentar controlar Deus. Isso tem a ver com uma deformação, com um excessivo ritualismo ou com tantas outras atitudes de controle. A oração é falar e escutar (Francisco, Sobre o céu e a terra).


ORAR

A intercessão de Abraão representa uma mudança determinante nas relações entre Deus e a humanidade pecadora. Até então, as culpas de um ou de poucos eram pagas por toda a coletividade. Abraão luta com humildade e decisão para que a inocência de uma minoria seja motivo de perdão para todos os demais pecadores. O Senhor está sempre disposto a garantir espaço ao perdão. Na insistência de Abraão, é a sua fé e não a sua inocência que lhe dá a ousadia de dialogar com o Senhor. Ele reza pelos outros, intercede por eles e se solidariza com os pecadores. “Existia contra nós uma conta a ser paga, mas ele a cancelou, apesar das obrigações legais e a eliminou, pregando-a consigo na cruz”. O Evangelho revela um Deus que é Pai e não o Juiz da terra. É a oração dos filhos e filhas que supera, definitivamente, o medo por meio deste novo clima de confiança e de amor. Pedimos e nos comprometemos ao mesmo tempo. A oração nos permite escutar o que o Pai espera de nós: exatamente o que pedimos. Deus nos escuta a seu modo, Ele sabe o que é melhor para nós e dará o Espírito Santo aos que pedem. A oração que o Pai escuta é a que nos transforma e nos mergulha, sob o impulso do Espírito, nos desígnios de Deus. Deus é o Deus que nos surpreende. Suas respostas são maiores que nossas perguntas e o seu dom maior que nossas petições. A oração cristã não são novas palavras, mas uma nova maneira de ser. Em lugar de bater no peito, mortificar-se, louvar aos berros, repetir palavras inaudíveis para impressionar, Jesus se torna sereno como aquele que se aproxima com gratidão e admiração. Sua presença nos extasia e a sua beleza nos conforta. O cerne do Pai Nosso não é o pedido de pão ou de trabalho, mas o essencial revelado na primeira frase: “Pai nosso amado!”.


CONTEMPLAR

S. título, 1992-9, Romaria em Juazeiro do Norte, Ceará, Tiago Santana (1966-), do livro “Benditos”, Crato, Ceará, Brasil.


segunda-feira, 11 de julho de 2016

O Caminho da Beleza 35 - XVI Domingo do Tempo Comum

XVI Domingo do Tempo Comum                17.07.2016
Gn 18, 1-10             Cl 1, 24-28              Lc 10, 38-42


ESCUTAR

“Meu Senhor, se ganhei tua amizade, peço-te que não prossigas viagem sem parar junto a mim, teu servo” (Gn 18, 3).

Alegro-me de tudo o que já sofri por vós e procuro completar na minha própria carne o que falta das tribulações de Cristo (Cl 1, 24).

“Marta, Marta! Tu te preocupas e andas agitada por muitas coisas” (Lc 10, 41).


MEDITAR

Foi a surpresa, o estupor de um encontro; percebi que estavam me esperando. Isso é a experiência religiosa: o estupor de encontrar alguém que está nos esperando. A partir desse momento, para mim, Deus é o que está um passo à frente. Você o está buscando, mas ele o busca primeiro. Queremos encontrá-lo, mas ele nos encontra primeiro (Francisco, O Papa Francisco. Conversas com Jorge Bergoglio).


ORAR

A hospitalidade sempre será desafiadora e nos exige uma quebra no cotidiano. Abraão sai da sua modorra no maior calor do dia para acolher os que chegam de surpresa. Marta nos faz conhecer seu erro de perspectiva ao não entender que a chegada do Cristo significa a necessidade de sacrificar o urgente ao importante. Maria escolhe receber a palavra de Jesus e coloca-se no plano do ser ao dar primazia à escuta. Marta se precipita num ativismo ensandecido e corre o risco de se converter no moto perpétuo que gira no vazio para se auto justificar. Marta se limita a recepcionar Jesus em sua casa; Maria o acolhe no interior do seu coração ao se fazer receptáculo e tabernáculo de Jesus. Maria lhe oferece a hospitalidade no espaço interior, secreto, reservado para o seu amor. Marta oferece a Jesus uma grande quantidade de coisas e Maria oferece a si mesma. Muitas vezes, com a intenção de dedicar-se às coisas do Senhor descuidamos da acolhida profunda e silenciosa da sua Palavra e nos arriscamos a perder de vista o Senhor e ver somente a nós mesmos. Hoje nos falta arder o coração num contato pessoal com Jesus vivo, pois estamos imersos na mediocridade de uma subcultura globalizada que nos submerge na indiferença e na rotina. A prática da hospitalidade traz consigo um dom inesperado: descobrimos que, ao dar espaço ao outro na nossa casa e no nosso coração, a sua presença não nos subtrai espaço vital, mas amplia os nossos ambientes e horizontes, assim como a sua partida não deixa um vazio, mas dilata o nosso coração até permitir-lhe abraçar o mundo inteiro. Devemos acolher com hospitalidade o Cristo presente no forasteiro para que no dia do julgamento Ele não nos ignore como estrangeiros, mas nos receba como irmãos em seu Reino (Gregório Magno). Devemos gravar no mais fundo de nós a exortação da carta aos Hebreus: “Não vos esqueçais da hospitalidade, porque graças a ela alguns, sem saber, acolheram anjos” (Hb 13, 1).


CONTEMPLAR

Mulher no acampamento de refugiados em Lahore, Paquistão, 1948, Henri Cartier-Bresson (1908-2004), Fundação Henri Cartier-Bresson, Paris, França.




segunda-feira, 4 de julho de 2016

O Caminho da Beleza 34 - XV Domingo do Tempo Comum

XV Domingo do Tempo Comum                  10.07.2016
Dt 30, 10-14                       Cl 1, 15-20               Lc 10, 25-37


ESCUTAR

“Esta palavra está bem ao teu alcance, está em tua boca e em teu coração, para que a possas cumprir” (Dt 30, 14).

Deus quis habitar nele com toda a sua plenitude e por ele reconciliar consigo todos os seres, os que estão na terra e no céu, realizando a paz pelo sangue da sua cruz (Cl 1, 19-20).

“Vai e faze a mesma coisa” (Lc 10, 37).


MEDITAR

Os ministros da Igreja devem ser misericordiosos, tomar a seu cargo as pessoas, acompanhando-as como o bom samaritano que lava, limpa, levanta o seu próximo. Isto é Evangelho puro... Os ministros do Evangelho devem ser capazes de aquecer o coração das pessoas, de caminhar na noite com elas, de saber dialogar e mesmo de descer às suas noites, na sua escuridão, sem perder-se. O povo de Deus quer pastores e não funcionários ou “clérigos burocratas” (Francisco, Entrevista a Civiltà Cattolica, 19 de setembro de 2013).


ORAR

Cristo não é só o princípio da harmonia cósmica, mas Aquele que funda e legitima uma nova ordem nas relações entre os homens. Ele revela o rosto escondido e inacessível de Deus e o seu desígnio para a humanidade. Este desígnio mostra-se fechado para os que pensam alcançar a Deus passando ao largo do seu próximo. Preocupam-se com as coisas de Deus sem se dar conta de que o que interessa a Deus são as coisas dos homens. Consideram a misericórdia, o ser tomado pelas entranhas, uma debilidade. Cristo nos revela que não há outro lado do caminho senão o encontro concreto com o outro que nos leva a Deus. Não é preciso subir aos céus e nem descer às profundezas para encontrá-Lo. Basta, como o samaritano, descer da sua montaria e mergulhar na dor de um pobre homem qualquer. O sacerdote e o levita chegaram, sem obstáculos, até o final do seu caminho e faltaram ao encontro com Deus. O samaritano não deu mais do que dois passos, mas na direção certa. A quem damos amor se torna o próximo. “O amor torna-se cuidado do outro e pelo outro... Amar é dar ao outro o olhar de ternura que ele precisa” (Bento XVI, Deus Caritas Est). O Cristo oferece mais do que uma resposta filosófica e um princípio ético natural. Sua resposta é uma revelação divina do mistério de Deus: “Eu quero misericórdia e não sacrifícios” (Os 6,6). O mistério do bom samaritano é o mistério da Misericórdia. É o próprio Cristo que habita o ferido à beira do caminho; é o Cristo que passa na pessoa do samaritano e se torna o vínculo que os une. Ao se encontrarem pela compaixão, produz-se um despertar e uma epifania divinas e nelas encontramos o Homem e a Humanidade. Eis o que significa “fazer a vontade de Deus”: não é só obedecer aos mandamentos, ir aos cultos, mas nos atermos aos outros com vínculos de misericórdia. As questões colocadas pelo mestre da lei eram inúteis e Cristo não as responde. Ao invés de respondê-las, verte vinho e óleo sobre as feridas, pois Ele é a única resposta às questões vitais.


CONTEMPLAR


O cordeiro sobre o jumento, 1958, Robert Doisneau (1912-1994), Paris, França.