segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

O Caminho da Beleza 11 - IV Domingo do Tempo Comum


IV Domingo do Tempo Comum                   31.01.2016
Jr 1, 4-5.17-19                   1 Cor 12, 31-13, 13                        Lc 4, 21-30


ESCUTAR

“Eles farão guerra contra ti, mas não prevalecerão, porque eu estou contigo para defender-te”, diz o Senhor (Jr 1, 19).

O amor não acabará nunca. As profecias desaparecerão, as línguas cessarão, a ciência desaparecerá (1 Cor 13, 8).

“Não é este o filho de José?” (Lc 4, 22).


MEDITAR

Papa Francisco ao guarda suíço que permaneceu toda a noite de pé do lado de fora, cuidando de seu quarto:
- Papa: Ficou acordado toda a noite de pé? Não ficou cansado?
- Guarda: É meu dever sua Santidade, para sua segurança...
O Papa retornou a seu quarto. Depois de alguns minutos, trouxe para o guarda uma cadeira em suas mãos...
- Papa: Sente-se e descanse.
- Guarda: Desculpe sua Santidade, mas não posso, as regras não permitem.
- Papa: As regras?
- Guarda: É uma ordem de meu Capitão, sua Santidade.
- Papa: Bem, mas eu sou o Papa e te peço que te sentes.
Um pouco mais tarde o Papa retornou, com café, um pouco de pão e presunto e os entregou ao guarda...
- Papa: Bom apetite meu irmão...
(Francisco, abril de 2013).


ORAR

Os textos de hoje nos levam a refletir sobre o amor sem fronteiras do Senhor. Cafarnaum, símbolo dos pagãos, passa adiante de Nazaré, cidade da infância de Jesus. O profeta Elias estava no meio do povo judeu, mas, no momento de realizar um prodígio, abandonou as muitas viúvas de Israel e foi ao encontro da pobre viúva pagã de Sarepta, no país de Sidon. E Eliseu não curou nenhum leproso em Israel, mas curou Naamã, o sírio. Para Jesus não é relevante que um profeta não seja bem recebido em sua pátria. A pátria, lugar onde se está enraizado pelo sangue, e o Reino de Deus não são compatíveis. O Reino de Deus ignora a pátria porque, sendo a negação de todos os limites, implica numa total abertura a todos os povos. Somos chamados a fazer avançar este Reino que será vingado por um amor sem fronteiras. O papa Francisco nos alerta: “Os problemas, as preocupações de todos os dias nos impulsionam a nos curvarmos sobre nós mesmos, na tristeza e na amargura...e isto é a morte, pois não procuramos mais Aquele que está Vivo”. O amar cristão não conhece regras, barreiras ou imposições, mas, como uma luz, irradia a solidariedade e a compaixão. Nós estamos longe do amor cristão quando, por vaidade e falsa segurança, nos tornamos sombras esmaecidas de nós mesmos. Um cristianismo adulto é a generosa doação de si próprio, feita de gestos de amor sem medidas que comprometem todo nosso ser. Paulo nos mostra que o amor é maior virtude do que todos os dons. E virtude significa a força vital que nos foi entregue por Deus e que para Deus voltará. O dom da fé serve para alimentar a confiança; o da esperança para nos fazer perseverar num destino comum. Todos os dons são transitórios porque respondem pelo tempo presente; e imperfeitos, porque, como humanos, ainda vemos o que nos cerca de maneira confusa como num espelho. A virtude do amor – cáritas e ágape – é eterna porque nos conduz à profunda comunhão com o êxtase de Deus. Nela, O veremos face a face, conheceremos como somos conhecidos e estaremos no centro de gravitação da Vida: “Pondus meum amor meus”: o amor é o meu peso! (Santo Agostinho). Deus é um amor sem fronteiras que arde também como fogo e quer amar sempre mais: “Quando eu resplandeço, tu deves arder; quando fluo, tu deves fluir; quando tu amas, nós dois nos tornarmos um e quando somos um, nada mais poderá nos separar” (Mechthild von Magdeburg, séc. XIII).


CONTEMPLAR

Sem título, mês de fevereiro, 2001, Richard Kalvar (1944-), Calendário Lavazza, 2001, “Friends & More”, fotos de Richard Kalvar e Martine Franck nos cafés de Paris, França. O fotógrafo nasceu em Nova York, Estados Unidos.



segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

O Caminho da Beleza 10 - III Domingo do Tempo Comum

III Domingo do Tempo Comum                   24.01.2016
Ne 8, 2-6.8-10                   1 Cor 12, 12-30                  Lc 1, 1-4;4, 14-21


ESCUTAR

“Este é um dia consagrado ao Senhor, vosso Deus. Não fiqueis tristes nem choreis...porque a alegria do Senhor será a vossa força” (Ne 8, 8.10).

Todos nós, judeus ou gregos, escravos ou livres, fomos batizados num único Espírito para formarmos um único corpo, e todos nós bebemos de um único Espírito (1 Cor 12, 13).

Todos os que estavam na sinagoga tinham os olhos fixos nele (Lc 4, 20).


MEDITAR

Não tenham medo da ternura (Francisco, Homilia, 19 de março de 2013).


ORAR
           
Os textos desta liturgia nos falam do dia consagrado, um hoje permanente em que devemos celebrar o proclamado: “a alegria do Senhor será a vossa força”. O Senhor nos pede uma coerência irredutível entre palavra e ação. O evangelista apresenta Jesus no centro da sinagoga recebendo o livro do profeta Isaías. Jesus não o abriu a esmo, como se tirasse a sorte para que Deus lhe falasse magicamente. Ao contrário, abriu o livro e “achou a passagem” que o colocava na estatura de profeta e de sacerdote: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou com a unção para anunciar a boa nova aos pobres; enviou-me para proclamar a libertação aos cativos e aos cegos a recuperação da vista; para libertar os oprimidos e para proclamar um ano de graça do Senhor”. O hoje de Deus é proclamado, pleno de graça e julgamento, para os homens do seu tempo e o Ressuscitado, continua proclamando-o, como amor salvador, em todas as épocas e situações. Jesus coloca em seu lugar, como centro de irradiação, os mais necessitados de compaixão e misericórdia que são, segundo o Evangelho, o próprio Deus conosco: “Senhor, quando foi que o vimos com fome, ou com sede, como estrangeiro, nu, doente ou na cadeia?” (Mc 25, 37). Jesus, na sinagoga, era um rosto comum como tantos outros e hoje ele ainda é comum porque é o rosto conhecido de tantos pobres, cativos, cegos e oprimidos. Por mais avanço nos meios de difusão e comunicação ao nosso alcance, não conseguimos superar a cisão entre fé e vida porque nos recusamos a ver o Deus que se revela com um rosto humano. Mesmo com os “olhos fixos nele”, não o enxergamos porque tentamos vê-lo com as lentes do proselitismo e não com os olhos humanos da compaixão. Apesar de todos os slogans utilizados nas nossas propagandas religiosas, Deus continua a viver no exílio em sua própria casa. O papa Francisco nos exorta: “Sou eu o guardião do meu irmão? Sim, tu és o guardião do teu irmão! Ser uma pessoa humana significa sermos guardiões uns dos outros! E, ao contrário, quando se rompe a harmonia, segue uma metamorfose: o irmão a guardar e a amar se torna o adversário a combater e a suprimir. Em cada violência e em cada guerra, fazemos renascer Caim”.


CONTEMPLAR

Um Passeio ao Jardim do Paraíso, 1946, W. Eugene Smith (1918-1978), Estados Unidos.



segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

O Caminho da Beleza 09 - II Domingo do Tempo Comum



II Domingo do Tempo Comum                     17.01.2016
Is 62, 1-5                 1 Cor 12, 4-11                     Jo 2, 1-11


ESCUTAR

Por amor de Jerusalém não descansarei, enquanto não surgir nela, como um luzeiro, a justiça e não acender nela, como uma tocha a salvação (Is 62, 1).

A cada um é dada a manifestação do Espírito em vista do bem comum (1 Cor 12, 4-11).

“Todo o mundo serve primeiro o vinho melhor e, quando os convidados já estão embriagados, serve o vinho menos bom. Mas tu guardaste o vinho melhor até agora!” (Jo 2, 10)


MEDITAR

Compreendo as pessoas que se vergam à tristeza por causa das graves dificuldades que têm de suportar, mas, aos poucos, é preciso permitir que a alegria da fé comece a despertar, como uma secreta mas firme confiança, mesmo no meio das piores angústias (Francisco, Evangelii Gaudium, 6).


ORAR

Os textos desta liturgia nos falam de um Deus Nupcial. As núpcias sempre foram a melhor imagem para exprimir os laços do Senhor para com seu povo. João na sua narrativa aponta um detalhe fundamental. A água que foi transformada em vinho foi a das talhas de pedra que, segundo o costume judaico, servia para o ritual da purificação dos convidados. Jesus não manda trazer de fora um outro vinho, mas, deixa fluir o seu senso de humor, para espanto do mestre-sala, e transforma em melhor vinho a mesma água utilizada no ritual. Jesus, com este gesto, quer nos revelar que nenhuma tradição pode se fechar num ritualismo legalista, pois, quando isso acontece, é destruída a alegria de viver, os corações se tornam de pedra como as talhas e é aniquilado o senso de humor tão vital para enfrentar a imprevisibilidade cotidiana. Por esta razão, Jesus não rompe com a sua tradição cultural, mas a transfigura e assim a água fria usada para a limpeza exterior transfigura-se em vinho para manter os corações aquecidos e a alegria dos convidados na festa nupcial de Caná. A glória de Deus se manifesta no ramerrão da vida em seu amor pelos homens e mulheres. O Papa Bento XVI nos ofereceu a régua e o compasso: “O humorismo é um componente da serenidade da criação. Em muitos momentos da nossa vida podemos notar como Deus nos incita a viver com maior leveza, a olhar também o lado alegre, a descer do pedestal, a não ignorar o sentido do cômico. Ao querer, de fato, resistir ao mal, é sem dúvida importante não cair num nebuloso moralismo, que não mais consegue se alegrar com nada. É preciso, isto sim, perceber quanta beleza ainda existe e, partindo desse ponto, resistir a tudo o que destrói a alegria, pois o elemento constituinte do cristianismo é a alegria”. Ler os sinais dos tempos é saber que o Espírito do Senhor não atua de véspera, nem retarda o presente e, muito menos, apressa o futuro. O Espírito que nos conhece e distribui, diversamente, os seus dons age, aqui e agora, em nós e por nós, preparando caminhos de encontro, pois para Deus não existe amor sozinho.


CONTEMPLAR

Pré-casamento com aurora boreal em Tromsö, Noruega, 2015, Juliana Wiklund, Brasil/Suécia, in: http://julianawiklundweddings.com





segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

O Caminho da Beleza 08 - Batismo do Senhor

Batismo do Senhor                    10.01.2016
Is 42, 1-4.6-7                      At 10, 34-38                       Lc 3, 15-16.21-22


ESCUTAR

“Eis o meu servo – eu o recebo; eis o meu eleito – nele se compraz minha alma” (IS 42, 1).

“Deus não faz distinção entre as pessoas. Pelo contrário, ele aceita quem o teme e pratica a justiça, qualquer que seja a nação a que pertença” (At 10, 34).

Enquanto rezava, o céu se abriu e o Espírito Santo desceu sobre Jesus em forma visível, como pomba (Lc 3, 21-22).


MEDITAR

Justiça e paz em casa, entre nós. Isto começa em casa e depois se expande por toda a humanidade. Mas nós devemos começar conosco. O Espírito Santo age nos corações, dissipa os fechamentos e as durezas e faz com que nos enterneçamos diante da fragilidade do menino Jesus (Francisco, Angelus, janeiro 2014).



ORAR

A celebração do batismo do Senhor nos exige um compromisso de liberdade que, muitas vezes, foi obscurecido por uma exacerbada religiosidade descomprometida com a prática do Evangelho. Os textos de hoje são absolutamente explícitos. O julgamento misericordioso das nações será vingado pelo servo eleito, amado e dileto. “Não clama nem levanta a voz (...) Não quebra uma cana rachada nem apaga um pavio que ainda fumega; mas promoverá o julgamento para obter a verdade. Não esmorecerá nem se deixará abater, enquanto não estabelecer a justiça na terra”. Para que não reste nenhuma dúvida, o profeta declara que a prática da justiça será abrir os olhos dos cegos, tirar os cativos da prisão e livrar do cárcere os que vivem nas trevas. O livro de Atos nos assegura e alerta que “Deus não faz distinção entre as pessoas. Pelo contrário, ele aceita quem o teme e pratica a justiça, qualquer que seja a nação a que pertença”. O evangelista nos desvela que o batismo de Jesus não foi nada de extraordinário. “Quando todo o povo estava sendo batizado, Jesus também recebeu o batismo”. Jesus pelo seu batismo no Jordão se solidariza com os pecadores que buscam a conversão. E pelo seu batismo na Cruz extingue, pelo corpo entregue e sangue derramado, toda a miséria do desamor cristalizada no pecado do mundo. Tudo o que acontece entre o seu batismo e a sua morte na cruz testemunha, com toda a sua visibilidade, o amar de Jesus. Nele, cumpriu-se o profeta Isaías: “Eis o meu servo, eu o recebo; eis o meu eleito, nele se compraz minha alma; pus meu espírito sobre ele, ele promoverá o julgamento das nações (Is 42, 1). O Senhor inverte a realidade política: quem recebe o poder do julgamento de Deus é um Servo. Como Jesus, o Cristo, somos ungidos pelo batismo para corrermos riscos e não para nos aninharmos numa vida medíocre e fútil que nos aliena do mundo e nos encerra em redomas de auto satisfação religiosa. A exigência de uma conversão permanente é, provavelmente, mais difícil para nós, cristãos, tantas vezes orgulhosos das nossas certezas e seguranças, do que para os outros. Talvez esteja mais perto de uma metanoia “quem não aceita uivar com os lobos, nem zurrar com os asnos” (provérbio africano). Quem tem ouvidos para ouvir, ouça!


CONTEMPLAR


Chiapas, México, 1994, Paul Fusco (1930-), Estados Unidos.